1ª Fase (escola)
LEITURAS:
«Felicidade Clandestina» in Felicidade Clandestina de Clarice Lispector (conto)
«Aquela Corda» in Casos do Beco das Sardinheiras de Mário de Carvalho (conto)
2ª Fase (Cepe França)
LEITURAS:
Os Sonhadores de António Mota (romance)
O Ouro de Delfos de Hélia Correia (romance)
3ª Fase (Epe / Portugal)
LEITURAS:
«O Leitor» in Histórias de Ver e Andar de Teolinda Gersão (conto)
«Poema para Galileu» de António Gedeão (poema)
Poema para Galileo
LEITURAS:
«Felicidade Clandestina» in Felicidade Clandestina de Clarice Lispector (conto)
«Aquela Corda» in Casos do Beco das Sardinheiras de Mário de Carvalho (conto)
2ª Fase (Cepe França)
LEITURAS:
Os Sonhadores de António Mota (romance)
O Ouro de Delfos de Hélia Correia (romance)
3ª Fase (Epe / Portugal)
LEITURAS:
«O Leitor» in Histórias de Ver e Andar de Teolinda Gersão (conto)
«Poema para Galileu» de António Gedeão (poema)
Poema para Galileo
Estou olhando o teu retrato, meu
velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente
conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha
e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos
Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse
Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos
Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a
Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas
pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão
direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me
deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava
a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais
depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de
camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus
nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas
sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos,
de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem
da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em
silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela
fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação
dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas-
parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas
reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim,
que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a
Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia
universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria
intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes,
grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos
seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos
espaços
à razão de trinta quilómetros por
segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos
misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de
piedade,
piedade pelos homens que não
precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a
verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os
contratempos,
enquanto eles, do alto incessível
das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos
tempos.
In http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/galileu.html,
consultado a 12-5-2017.
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